quinta-feira, setembro 6

NOS VAGÕES DA HISTÓRIA

JERUMENHA, 250

Por: Fonseca Neto ( Historiador, Professor e Acadêmico )
fonsecaneto@cidadeverde.com

A devoção antonina local tem mais de trezentos anos e suas histórias quase inverossímeis permeiam as estruturas mentais do lugar.

JERUMENHA é o terceiro município mais antigo do Piauí: formal e solenemente instalado no dia 22 de junho de 1762, sob a presidência do governador da capitania, João pereira Caldas, que assim cumpria uma diretiva do reino de Portugal. Acontecimento maior da vida cívica municipal.

A criação dessa municipalidade na ribeira ou vale do rio Gurguéia, pouco acima de sua barra no rio Parnaíba, decorre do processo mais geral da guerra da colonização, sendo o núcleo-sede, depois vila, a hoje cidade, um arraial fundado pelo herdeiro da Casa da Torre, de Tatuapara, litoral da Bahia, empreendimento bandeiro-entradista que afugentou e retirou os nativos indígenas da região, implantando seu regime de exploração colonial a partir das três últimas décadas do Seiscentos. Desse ponto, os sertanistas da Torre desceram  e atravessaram o dito Parnaíba, estabelecendo domínio por todo o sul do Maranhão - sertões dos "pastos bons", até os sopés da serra do Itapecuru e a calha tocantina. Gurguéia, alto Parnaíba, alto Itapecuru e médio Tocantins, região da América portuguesa a princípio reinvindicada pela capitania coelhada de Pernambuco. E é desta capitania que os Ávila obtêm a chancela para ali se estabelecerem pela força da arma e da lei das sesmarias. A Casa de dÁvila, "feudo" territorial riquíssimo, além da simbologia, dispunha-dispõe-de uma famosa Torre de duas faces, "uma virada para o mar, vigiando piratas [...]; a outra, para o desconhecido, para o sertão infrequentado, ignoto e temeroso". O arraial, futura Jerumenha é um ponto avançado de seu poder descomunal.

Despojados esses invasores originais em face do recrudescimento da guerra ao gentio, e do levante geral dos tapuias e sem-terra nas primeiras décadas do Setecentos,perdendo Pernambuco sua jurisdição sobre ele, o lugar do arraial é feito distrito e freguesia na forma resolvida por el-rei, através da Mesa da Consciência e Ordens, em 20 de maio de 1740, por obra do bispo do Maranhão, d. fr. Manuel da Cruz, que anima o povo local a erguer, sagrada em 1746, a igreja paroquial, dedicada a Santo Antonio de Lisboa, e Pádua.

Ao inaugurar Jerumenha na zona do baixo Gurguéia, dezenove dias após oficializar Parnaguá - nas franjas altas dessa ribeira - o governador cumpre missão do império português de enquadrar ao já secular Estado do Maranhão ( e Grão-Pará ) todo o vale gurgueiano. É feita então a eleição de seu primeiro governo, a Câmara Municipal, erguido o pelourinho e designada a terra de seu patrimônio - a "terra do santo". Do município de jerumenha colonial, nestes dois séculos e meio, foram subtraídos os territórios de mais de trinta outros municípios do Piauí, entre os quais o da Manga/Floriano. E Jerumenha conservou-se uma cidade pequena, grandiosa, porém, no acolhimento de seus filhos, marcando a seu modo a experiência humana nesse recôndito. Das famílias aportuguesadas do lugar, Ávilas não há, mas Rocha há muitos. O Oitocentos inaugurado, chegam os Fonseca, pelo Maranhão e pela Passagem da Manga. E espalham-se aos confins do vale.

Arraial dos Ávila, depois freguesia de "Santo Antonio da Gurguéia", desde 1762 vila e município de Santo Antonio da Juromenha ou Jeromenha, a designação oficial dessa nova vbila e do município queforma sua jurisdição, em tudo revela a transposição imperfeita da toponímia lusometropolitana para este trópico. A ordem do rei era "desarbarizar" a nominação dos lugares.

Fonte: Revista Cidade Verde

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